Nós por nós: solidariedade negra e economia criativa

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22398/2525-2828.09278-22

Palavras-chave:

Racismo, Raça , Economia criativa , Movimentos sociais

Resumo

Este artigo teve como objetivo analisar os sentidos atribuídos por participantes negros e negras de feiras solidárias ao trabalho informal e ao empreendedorismo. Para isso, entrevistamos parti- cipantes negros de feiras de economia solidária na cidade de Florianópolis, Santa Catarina, com o intuito de analisar como suas atividades se relacionam com movimentos sociais. Para a compre- ensão dessas práticas, categorizamos os conteúdos dessas entrevistas em dois grandes núcleos te- máticos: “Sobrevivendo por conta própria: inovação e criatividade”; e “Subjetividade e Economia Criativa”. Os resultados obtidos nesta pesquisa apontam que os movimentos sociais e a economia criativa são como ferramentas de mobilização para gerar acessos, renda e fortalecimento não só de vínculos, mas também de identidade negra positivada. No entanto, fica evidente que a trabalhadora e o trabalhador negros carregam uma história singular de discriminação racial e de exclusão não apenas no mercado formal, mas também no apoio para o empreendedorismo e a economia criativa.

Biografia do Autor

Lia Vainer Schucman, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Lia Vainer Schucman é Doutora em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo com estágio de Doutoramento no Centro de Novos Estudos Raciais pela Universidade da Califórnia. Professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Membro do Núcleo de Práticas Sociais, Estética e Política (https://nupra.paginas.ufsc.br/) pesquisadora de Psicologia e Relações Étnico-Raciais. Autora dos livro Entre o Encardido, o Branco e o Branquíssimo: Branquitude, Hierarquia e Poder na Cidade de São Paulo (Veneta, 2020) e Famílias Interraciais: tensões entre cor e amor (Fósforo 2023).

Heitor Marques Santos, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Psicólogo formado pela Universidade Nove de Julho - UNINOVE (São Paulo/SP), onde atuou como pesquisador em grupos de Iniciação Científica. Foi membro do Núcleo de Investigações Clínicas e Educacionais (NICE) do Curso de Psicologia e do Grupo de Pesquisa Educação e Neurociências (GRUPENC) do Programa de Pós-Graduação em Educação - PPGE da Universidade Nove de Julho - UNINOVE. Foi monitor no "V Congresso Brasileiro de Psicologia: Ciência e Profissão. Psicologia, direitos sociais e políticas públicas: avanços e desafios". É autor de capítulos em livros científicos e participou de evento científico. Seus interesses e área de estudos recaem sobre os processos psicossociais e culturais sob uma perspectiva racializada. Por isso, atualmente exerce atividade como pessoa jurídica na prestação de treinamento e desenvolvimento de cidadãos que representam a diversidade étnico-racial.

Maria Eduarda Delfino das Chagas, Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Mestranda na área de Psicologia Social e Cultura pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina (PPGP/UFSC). Especialista em Saúde Mental, Atenção e Reabilitação Psicossocial pelo Programa de Residência Multiprofissional da Universidade do Extremo Sul Catarinense (2024). Bacharel em Psicologia pela Universidade do Extremo Sul Catarinense (2021). Pesquisadora vinculada ao Núcleo de Pesquisa em Gênero e Raça (NEGRA/UNESC) e ao ao Núcleo de Pesquisa em Práticas Sociais, Estética e Cultura (NUPRA/UFSC) na linha de pesquisa em desigualdade e relações étnico-raciais. Foi bolsista (2020-2021) do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC/UNESC/CNPq) e bolsista extensionista (2019-2020) do Programa de Extensão em Direito e Cidadania (UNESC). Pesquisa na área da Psicologia Social, com ênfase nas temáticas: Teoria Crítica da Raça; Relações Raciais; Território; Políticas Públicas.

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Publicado

2024-12-20

Edição

Seção

Dossiê: Marcadores sociais da diferença, movimentos sociais e economia criativa